domingo, 5 de junho de 2011

Bancada Religiosa: ignorância e oportunismo


José Mattos (*)

A Bíblia e as comunidades religiosas têm feito boas contribuições à sociedade. O discurso da fraternidade é sempre bem-vindo em sociedades capitalistas injustas, tal qual vivemos no Brasil.

Mas, infelizmente, a bancada religiosa em Brasília não tem se comportado assim. Agindo com um fundamentalismo medieval, parece querer jogar no lixo todo o desenvolvimento cultural, científico e político que a humanidade acumulou após os tempos bíblicos. O mais grave é que ela vem interferindo de forma desastrosa no nosso espaço mais precioso para livrar o país do subdesenvolvimento: a escola pública.
Primeiro impuseram o ensino religioso, um anacronismo que os estados que são, de fato, laicos, já baniram em todo o mundo. Como temíamos há 15 anos, as aulas de religião estão se transformando em mero proselitismo do Cristianismo, desprezando as demais manifestações religiosas da sociedade brasileira, inclusive os que acham melhor não seguir religiões. Um aspecto grave é a crescente exclusão das religiões de origem africana.
Agora os deputados religiosos fazem a gritaria contra o "Kit Escola sem Homofobia", que, maldosa e preconceituosamente, chamam de "kit gay", mentindo às pessoas desinformadas de que se trata de uma campanha de propaganda de uma determinada opção sexual.
É preciso lembrar que este projeto existe, no sistema educacional público, desde 2008 e já treinou milhares de professores em todo o país. É uma das boas iniciativas no sentido de preparar a escola a acolher, orientar e apoiar os jovens em todos os aspectos na caminhada de sua cidadania. Não se trata simplesmente de educação sexual e sim de uma abordagem, em todas as disciplinas do currículo, dos temas homofobia, machismo, sexismo e direitos humanos. É um esforço para entender e tratar um tema complexo que afeta toda a sociedade. A capacitação dos professores permite que eles se tornem agentes de combate ao preconceito e que não permitam que a homofobia seja mais dos problemas das nossa escolas, que já tem tantos outros para resolver.
É triste ver, mais uma vez, instituições religiosas assumirem o seu lado obscuro, conservador, opressor, intolerante e autoritário. Infelizmente a história está cheia de exemplos: Santa Inquisição, aculturação indígena, apoio ao nazismo e às ditaduras militares, opressão das mulheres, negação das descobertas científicas do Evolucionismo e das células-tronco, entre outros eventos.
Se eles estão à caça de grandes ameaças, temos uma bem no nosso nariz: a crise ambiental de grande proporção que pode dizimar grande parte da humanidade. Que tal todos nos concentrar nela? E aceitar as diferenças irrelevantes, tais como a opção sexual das pessoas. O planeta, nosso lar, vai precisar de todas as pessoas, de todos os talentos. Por que impedir o Governo de defender os excluídos?
Senhores deputados e senadores, aceitem que o mundo mudou. Busquem contribuir e não tutelar.
(*) José Mattos é empresário

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