quarta-feira, 3 de abril de 2013

O autoritarismo nosso de cada dia não nos dai hoje



(Veiculado pelo Correio da Cidadania a partir de 22/03/13)

Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia
 
Nossa sociedade é agredida por inúmeros comportamentos autoritários, no dia-a-dia, e os absorve como se fossem intrínsecos à vida. Outras sociedades podem sofrer com autoritarismos análogos ou até mais drásticos, mas isto não justifica o que aqui acontece.
Pode-se dizer que ações impositivas, socialmente irracionais, são uma tradição cultural, a herança de sistemas passados sem garantias ou uma característica natural dos humanos. A escravidão é uma das expressões máximas de ação desumana de força e despotismo. Maquiavel, ao sugerir ações para o Príncipe, visando este se manter no poder, recomendava toda sorte de ameaças e castigos, inclusive mortes. Entretanto, não é porque existe um triste passado de autoritarismo que ações atuais de força estão liberadas.
Mesmo com a aparência democrática da sociedade moderna ocidental, a verdade é que a liberdade existe nos pontos onde ela não prejudica a acumulação de riqueza. A arquitetura do sistema existente foi feita para garantir a acumulação com estampa democrática. Um país, como o nosso, com grande desnível de renda e riqueza, apesar da melhoria dos últimos anos, não tem democracia econômica.
Uma fase democrática incomum entre nós ocorreu nos anos de 1987 e 1988, durante a elaboração da nossa Constituição, graças à razoável participação popular. Como consequência deste período, resultou uma Constituição comprometida com o povo. Depois, ela foi autoritariamente reformulada, com a onda neoliberal, na década de 1990, sem nenhum debate profundo na sociedade.
Não há dúvida que não se pode ter uma verdadeira democracia com uma mídia tendenciosa dominada pelo capital, que é a existente no nosso país hoje. Contudo, salvo engano meu, o povo, na sua imensa sabedoria empírica, cada vez confia menos nesta mídia. Ele começa a descobrir que ela não é isenta e não faz as análises necessárias. Não tem interesse em promover um real debate de idéias, querendo só impor sua visão. Hoje, parte da população quer ter acesso a informações de qualidade e, portanto, visita meios de comunicação diversos em busca de novos ângulos para as questões.
Por outro lado, erra quem pensa que o autoritarismo é uma prática exclusiva da direita. Governantes reconhecidos como de esquerda precisariam mudar algumas práticas horrorosas de autoritarismo. É comum o cidadão se deparar com a recusa do governo ao diálogo, assim como com a imposição irracional de posições. Enfim, atos autoritários são encontrados para todos os lados.
Com um caso real, busco mostrar o que ocorre na administração pública, refletindo todo este contexto de imposição, desrespeito ao interesse social e perjúrio. Trata-se do que está ocorrendo atualmente no setor de petróleo. Não irei me ater à mudança extremamente autoritária ocorrida neste setor, nos anos de 1995 e 1997, até porque muitos autores, inclusive a minha pessoa, já escreveram artigos a respeito.
A sociedade não tem acesso aos estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que determinam o valor de referência do índice “Reserva sobre Produção de petróleo” (R/P) que deve ser usado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), para definição da necessidade de rodadas de leilões de áreas. O inciso VIII do artigo 4º da lei 10.847, de 2004, diz: “Compete à EPE promover estudos para dar suporte ao gerenciamento da relação reserva e produção de hidrocarbonetos no Brasil, visando a auto-suficiência sustentável”.
Por sua vez, o CNPE tem como atribuição, segundo o inciso V do artigo 2º da lei 9.478 de 1997: “Estabelecer diretrizes para a importação e exportação, de maneira a atender às necessidades de consumo interno de petróleo e seus derivados, gás natural e condensado, e assegurar o adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis...”. Não existe decisão do CNPE de acesso público determinando e explicando a diretriz para exportação de petróleo.
A ANP não realiza audiências merecedoras de serem consideradas públicas. Respostas dadas às perguntas feitas pelos movimentos sociais são insuficientes e os correspondentes trechos das atas não representam a realidade.
Especificamente, a audiência pública relativa à 11ª rodada deu-se dentro de um prédio militar, a Escola de Guerra Naval, onde militares estavam com armas de guerra a guarnecendo, representando uma demonstração de força desnecessária. Aliás, as Forças Armadas não deviam se prestar ao vergonhoso papel de guardiãs de audiências onde a entrega de patrimônio público nacional é combinada.
A ANP prioriza, claramente, nos convites para as audiências, a presença dos agentes econômicos, o que pode ser observado quando ela diz querer conhecer, através das audiências, as “críticas e sugestões dos agentes econômicos com relação ao pré-edital e ao novo contrato de concessão”. Nada é dito com relação à sociedade. A ANP não tem a isenção necessária para ser um verdadeiro árbitro, pois é tendenciosa a favor dos agentes econômicos.
Mais uma pérola autoritária deste setor. Através da Resolução Número 3 de 18/12/12, o CNPE “autoriza a ANP a realizar a 11ª Rodada de licitações de blocos”. No parágrafo único, ele diz se tratar de leilões visando conceder 172 blocos do território nacional. Em 19/2/13, ocorre a audiência pública relativa a estes blocos. No dia 28/2/13, são acrescentados mais 117 blocos a esta rodada, que não foram objeto da audiência citada.
A Diretora-Geral da ANP declarou que, nos 289 blocos da 11ª rodada, deverão ser descobertos 19,1 bilhões de barris de petróleo. Estes barris serão exportados, porque a Petrobras já garante o abastecimento nacional, pelos próximos 40 anos, com descobertas já ocorridas. A pergunta óbvia é: “quem definiu que a exportação deste petróleo, seguindo a lei 9.478, é a melhor opção para a sociedade brasileira?”
Para finalizar, o porquê de tanta agressividade autoritária e decisão antissocial está relacionado com o fato de que a desinformação do povo é imensa. Desta forma, os governantes não esperam nenhuma reação. Neste quadro, os brasileiros serão respeitados somente quando mostrarem estar informados e revoltados com as decisões antissociais.
 
Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/

Número crescente de concessões ao capital é a resposta do governo à crise  
 
ESCRITO POR OSWALDO COGGIOLA   
QUARTA, 27 DE FEVEREIRO DE 2013
 
 
 
No início do ano pré-eleitoral (na verdade, já eleitoral) de 2013, todos os índices da economia brasileira apontam para a estagnação e o recuo. À queda, já anunciada, do PIB, veio somar-se agora o recuo industrial (o primeiro em uma década), o retrocesso do investimento por cinco trimestres consecutivos, o aumento do desemprego, que já afetava o setor industrial e agora se transmitiu para o setor comercial (sinalizando o fim do boom do consumo que foi a marca econômica e política do governo petista), o aumento da inflação (que teria superado 1% em dezembro passado, isto é, mais de 15% anual, se não mediasse a queda parcial das tarifas de energia - que irá reduzir em 28% o custo dos grandes consumidores e em 16% o dos pequenos e médios consumidores - e o adiamento dos reajustes de tarifa nos transportes), a queda do lucro bancário privado (- 5,3%) e o aumento (30% em média) das provisões contra calotes do setor financeiro, que lucrou R$ 27, 7 bilhões, com um total de... R$ 52 bilhões previstos para devedores duvidosos e inadimplentes. A Bolsa de Valores de São Paulo anunciou no início de 2012 que 45 companhias fariam ofertas públicas iniciais de cotização de ações (só três delas o fizeram). Em suma, um cenário de crise e recessão. O “remédio” do governo é a mesmice aumentada, ou mais e ainda mais do mesmo.
 
O setor de ponta da saúde pública brasileira, os hospitais universitários, por exemplo, estão sendo “assediados”, mediante “terrorismo social” (termos usados pelo procurador federal do Ministério Público do Trabalho) para ceder sua gestão ao setor privado mediante a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). O governo Dilma afrouxou todas as condições para a privatização (leilão) de 7500 quilômetros de rodovias, em nove lotes, aumentando de 6% para 14,6% a taxa de retorno garantido para as empresas participantes. Com esse presentão para o grande capital, pretende-se manter o programa de investimentos de R$ 250 bilhões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Sem falar em que o governo está hipotecando todas as reservas do pré-sal, como já foi feito pelo governo Lula, que entregou uma grande parte do pré-sal para a empresa OGX (Eike Batista).
 
Com a renovação das concessões de geração, transmissão e distribuição de energia, o governo pretende hipotecar o patrimônio público para reduzir a tarifa média de energia. Uma vez vencidas as concessões, elas deveriam ser integradas ao patrimônio público. A MP (decreto) 579 é uma tentativa do governo para utilizar aproximadamente 22 mil megawatts de usinas hidrelétricas e 80 mil quilômetros de vias de transmissão para tentar fornecer essa energia só pelo custo de operação e manutenção e, com isso, tentar reduzir a média tarifária, que sempre beneficiou os maiores consumidores. O governo diminuiu a tarifa média, só que quem mais consome energia no Brasil é o grande capital (industrial, comercial, agrário, financeiro). Qualquer benefício linear beneficia só os mais ricos e deixa de fora 2,5 milhões de pessoas que ainda não têm acesso à energia. 1.500 consumidores consomem aproximadamente 28% de toda a eletricidade brasileira, e eles compram energia a um preço aviltado, porque pagam apenas 20% do custo da energia, de não menos de cem reais o megawatt-hora (MWh). Esses consumidores pagam cerca de R$ 20 por MWh. E os apagões são cada vez mais frequentes, pois, sem recursos, a manutenção é pífia.
 
O governo, além disso, criou uma fonte de recursos públicos para os bancos privados financiarem investimentos de médio e longo prazo, principalmente os destinados a bancar os programas de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Os bancos privados deverão pagar ao governo pelo acesso aos recursos uma correção baseada na TJLP (taxa de juros de longo prazo), hoje de 5% ao ano, muito abaixo da taxa “de mercado”. O formato da medida “atende pedido dos bancos privados”, anunciou o governo. Na prática, ele está acabando com a intermediação do BNDES. O banco público recebia dinheiro do Tesouro e o repassava a bancos privados, cobrando uma taxa. Agora, os bancos terão acesso direto aos recursos. A nova fonte de água benta vai se somar aos R$ 15 bilhões de depósitos compulsórios que o BC já havia liberado para financiar investimentos. As instituições financeiras privadas poderão formar consórcios para ter acesso ao fundo de recursos públicos.
 
Os economistas “neoliberais” (tucanos ou não), escrachados durante uma década, celebram por isso aos brados a conversão do governo ao “credo (violento) do mercado”, na verdade o credo do subsídio público ao grande capital. “O governo saiu de seu labirinto”, anunciou o inefável economista tucano Mendonça de Barros, pois “passou a depender do capital privado para superar as limitações ao crescimento” (capital privado que, por sua vez, depende dos créditos públicos e do saque ao Estado mediante a especulação com títulos públicos). O governo federal já destinou dois terços dos recursos gastos em 2013 para juros e amortizações da dívida: apenas nos primeiros 35 dias de 2013 já foram gastos nada menos que R$ 145 bilhões com juros e amortizações da dívida, valor equivalente ao dobro dos recursos previstos para educação em todo o ano de 2013. Para 2013, estão previstos R$ 900 bilhões para a dívida pública, 20% a mais do que os R$ 753 bilhões gastos com a dívida no ano passado. Isto mostra que, apesar da propaganda oficial sobre a queda da taxa de juros, a dívida pública continua no centro da crise nacional. A parte do orçamento federal destinada para pagamento de juros e amortizações da dívida cresceu de 36,7% para 45,05%.
 
No Código Florestal, a expectativa do “veta tudo Dilma” não se concretizou, e o governo tem demonstrado que seu projeto não se restringe a uma ou outra área. Trata-se de um projeto global em favor do grande capital, adequando às formas de organização do Estado à crise. Aí se encaixa o projeto de Código Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, que teve a “contribuição” de fundações privadas de todo o país, há décadas empenhadas na privatização no interior das instituições públicas. Para pagar a dívida pública, houve nos dois últimos anos cortes no orçamento de 50 e 55 bilhões de reais, que, somente entre os anos 2010 e 2011, fizeram cair 16,2% o orçamento para ciência e tecnologia. Agora, para “remediar”, não só será permitida a transferência direta de recursos públicos para o setor privado, como se ampliará a possibilidade de as instituições públicas – as universidades, responsáveis por mais de 90% da produção científica do país – compartilharem seus laboratórios, equipamentos, materiais e instalações com empresas privadas, inclusive transnacionais. O Código permitirá ainda o acesso à biodiversidade pelos monopólios privados. Será permitido, sem autorização prévia, o acesso ao patrimônio genético e de conhecimento tradicional para fins de pesquisa. E também a extração do patrimônio para fins de produção e comercialização. Uma política de entrega nacional total.
 
A crise econômica não tem ainda reflexos políticos decisivos. Lula, finalmente, lançou a candidatura de Dilma Roussef à reeleição. As sondagens provisórias a situam em torno de 55% das intenções de voto, com pouco mais de 10% para o tucano Aécio Neves, e percentuais semelhantes para a oportunista Marina Silva (que está leiloando sua candidatura para alguma sigla ou coalizão; a ex-senadora e ministra foi recebida com gritos de “Brasil, urgente, Marina presidente” ao entrar em um teatro lotado na Vila Madalena) e para Eduardo Campos (PSB), até a data, no entanto, integrante da base aliada do governo. Ou seja, teríamos uma nova eleição plebiscitária, onde só estariam realmente em disputa alguns governos estaduais, São Paulo em primeiríssimo lugar (haveria cinco pré-candidaturas petistas, incluída a de Guido Mantega: a eleição de SP seria mais importante que a nacional...). As especulações eleitorais, a mais de um ano e meio de distância do pleito, vão com sede demais ao pote.
 
E não só por causa do cenário econômico de crise, nacional e internacional, mas também por causa da luta de classes, e da crise política. Uma plenária para organizar a luta pela negociação e contração coletiva no serviço público e em defesa do direito de greve no funcionalismo reuniu a 19 de fevereiro diversas entidades dos servidores públicos dos três entes federativos na Câmara dos Deputados. O evento contou com a presença de cerca de 600 participantes, das mais diversas categorias do serviço público. Teria sido melhor realizá-la num local sindical, num centro da luta de classes, mas algo foi feito. Os sindicatos portuários, vinculados à Força Sindical (que anunciou sua ruptura com o governo) e à Federação Portuária (CUT), por sua vez, anunciaram medidas de luta contra a privatização dos portos (que implicará em milhares de demissões). É claro que essas burocracias apenas ameaçam (para negociar alguma coisa), mas viram-se obrigados a abrir uma fresta por onde pode ser proposta e agitada uma política classista (não à privatização, garantia e estabilidade no emprego, reajustes salariais).
 
A crise do mensalão ainda não acabou, e vai marcar as composições eleitorais. Como disse candidamente Wladimir Pomar (ideólogo da “esquerda” do PT), o STF “aceitou a tese do mensalão, sem qualquer consistência objetiva, pois, se houvesse, teria que ter julgado a maior parte da Câmara dos Deputados”. Tal e qual. Genoíno e Zé Dirceu, para ele, “cometem um erro crasso ao pretenderem estabelecer uma relação das ações de repúdio aos procedimentos e às decisões do STF com o apoio e sustentação do governo da presidente Dilma, e com a luta pelas reformas política e tributária. E praticam um erro maior ainda ao pretenderem fazer com que o PT assuma, neste momento, como sua tarefa mais importante, a luta pela anulação das condenações. Esquecem que isto incluiria absolver também o escroque [Marcos Valério] que praticou inúmeros delitos comprováveis e colocar o PT no banco dos réus... Os filiados atingidos pela ação penal 470 não podem transformar sua situação numa síndrome partidária”. Xadrez para eles, portanto, para salvar o restante da Câmara dos Deputados e o PT, ou seja, a quadrilha toda.
 
A esquerda classista está metida no meio das mesquinhas especulações eleitorais, nas quais é só marginal. Uma política eleitoral classista, no entanto, só pode ser o resultado final (e secundário) de uma vigorosa política de frente única de classe para organizar as lutas em curso, e também as lutas potenciais (pelo salário, pelo emprego, pelo direito à organização) suscitadas pela crise do capital. Só assim a crise política dos “de cima” poderia ser aproveitada politicamente pelos “de baixo”. A primeira condição é superar o sectarismo autorreferente e autoproclamado com uma política de luta, de unidade e de independência de classe.
 
Osvaldo Coggiola, historiador e economista, é professor do departamento de História da USP.

Governo financia entrega das infraestruturas do país a bancos e multinacionais  
 
ESCRITO POR PAULO PASSARINHO   
SEXTA, 01 DE MARÇO DE 2013
 
Tudo indica, já entramos na fase antecipada da campanha presidencial de 2014. Neste mês de fevereiro, Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina Silva claramente se movimentam com os olhos voltados para outubro do ano que vem.
 
Mas há substantivamente alguma novidade a ser destacada no discurso dessas figuras? Esta é uma indagação de difícil resposta, ao menos para a minha limitada visão. Razões para uma nova proposta não faltam. Apesar da propalada e badalada mudança nos rumos do país, nos anos Lula, o que mais assistimos é o mais do mesmo.
 
Estruturalmente, apesar da folga de nossas contas externas durante o período compreendido entre 2003 e 2007, não somente não aproveitamos essa oportunidade, como a partir de então voltamos à perigosa trajetória de crescentes déficits nas transações correntes do país. As bandeiras representativas para uma efetiva mudança nos rumos do Brasil, em relação ao projeto que se desenvolve desde os anos 1990 – mudança do tripé da política econômica; reforma tributária progressiva; reforma fiscal em prol da federação, das despesas sociais e da infraestrutura logística; reforma agrária e mudança paulatina do modelo agrícola, entre outras -, foram abandonadas.
 
O lulismo preferiu se fiar – além do apoio dos bancos, construtoras, multinacionais e agronegócio – na capitalização política dos efeitos das medidas compensatórias recomendadas pelo Banco Mundial – programas de transferência de renda aos mais pobres, reajustes reais do combalido salário-mínimo e ampliação dos mecanismos de crédito para a aquisição de bens de consumo.
 
Estas iniciativas tiveram, de fato, um importante efeito minimizador das graves consequências geradas e produzidas durante o segundo mandato de FHC (1999/2002). Isto propiciou, politicamente, efeito positivo que se traduziu na alta popularidade de Lula e na própria eleição de Dilma, em 2010. Mas somente os incautos ou oportunistas podem abstrair a perigosa trajetória que estamos trilhando.
 
Gigante rigorosamente adormecido, o Brasil de hoje é um país sem projeto próprio de desenvolvimento ou soberania. Sob o ponto de vista produtivo, temos uma economia desnacionalizada, uma indústria dominada pelas multinacionais, sem nenhuma autonomia científica ou tecnológica (excetuando-se, talvez, o setor de petróleo, graças à permanentemente atacada Petrobrás), e um modelo agrícola baseado na importação de insumos, defensivos e sementes, utilizadas sobremaneira em monoculturas extensivas, voltadas para a exportação de commodities. A expansão da renda e do emprego dos trabalhadores de baixa qualificação somente foi possível a partir de forte processo de endividamento do Estado, das empresas e das famílias.
 
A fragilidade do país é tamanha que até mesmo na área de serviços, tradicionalmente dominada pelo capital nacional, o avanço do capital estrangeiro é notório e abrangente. Diferentes setores são exemplos claros desse processo. Bancos, supermercados, estabelecimentos de ensino, hospitais, planos de saúde e outros serviços públicos essenciais ao dia-a-dia da população passam crescentemente às mãos de “investidores” externos.
 
Dentre esses serviços públicos essenciais, ganha destaque a infraestrutura logística do país. Em meio à ofensiva privatista do primeiro governo de FHC – e apesar de que já estivessem sendo entregues à iniciativa privada os setores de telecomunicações, empresas de distribuição de energia elétrica, água e saneamento, entre outros setores controlados por antigas estatais –, a promessa e justificativa para tão abrangente programa de desestatização era a necessidade de o Estado gerar recursos para serem investidos na redução da dívida pública, nas áreas sociais e na infraestrutura do país.
 
Apesar disso, o que hoje assistimos é a explosão do endividamento público – comprometendo quase a metade do Orçamento Geral da União com despesas financeiras -, a acelerada degradação da qualidade dos serviços sociais públicos e a total incapacidade do Estado em construir e manter adequadamente a infraestrutura logística do país.
 
Frente a essa situação, pressionado pelas reduzidas taxas de investimento da economia brasileira e o baixíssimo crescimento econômico nos dois primeiros anos de seu governo, Dilma resolveu lançar um ambicioso programa de concessões e investimentos, voltado para as áreas de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias, geração e transmissão de energia elétrica, petróleo e gás.
 
Os números projetados pelo ministro da Fazenda, garoto-propaganda do pacote apresentado nesta semana, em Nova York, a investidores, chegam a um montante anunciado de US$ 235 bilhões. Para os interessados, além de uma taxa real de retorno que será superior a 10% ao ano (descontada a inflação), e de um prazo de duração dos contratos ampliado, variando de 30 a 35 anos, o governo oferecerá crédito subsidiado, em um montante correspondente entre 65% a 80% do valor dos investimentos previstos.
 
Esta chamada “alavancagem” será garantida pelo governo através do BNDES, e também através dos bancos privados. Desse modo, para tornar ainda mais atrativo o negócio, inclusive para os hiperlucrativos bancos privados brasileiros, o Tesouro Nacional repassaria diretamente a esses bancos os recursos a serem emprestados aos futuros interessados pelas concessões a serem feitas pelo governo.
 
Aos leitores que se encontrem espantados ou perplexos com tanta generosidade do governo brasileiro, há uma explicação adicional que é importante de ser conhecida. Para a chamada formatação dessas propostas de concessões, o governo criou, em 2009, uma empresa, a Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), uma curiosa união do BNDES com oito bancos com atuação no país: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander, HSBC, Citibank, Espírito Santo e Votorantim. É esta empresa, portanto, que estabelece essas condições, para a continuidade da entrega da área de infraestrutura do país a investidores privados e estrangeiros, sempre com a providencial transferência de recursos do Estado para esses insuspeitos interessados.
 
Infelizmente, nenhum dos quatro possíveis postulantes à presidência da República, em 2014, citados no início deste artigo, apresenta qualquer divergência relevante, em relação ao modelo econômico em curso no Brasil. Apesar, inclusive, das permanentes e artificiais alfinetadas entre tucanos e lulistas. Por isso, cabe a pergunta: qual a razão para tanta precipitação? O que se disputa, a rigor, é apenas a gerência de um projeto, pré-definido pelos interesses hegemônicos de bancos e multinacionais.
 
A urgência, com certeza, deve ser de outra natureza: a necessidade de um verdadeiro candidato à presidente da República, com um projeto e plano de governo, dignos da importância desse cargo e do real significado da palavra república.
 
Paulo Passarinho é economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre.

erça, 18 de dezembro de 2012

O assunto mais estratégico. Artigo de José Eli da Veiga

"Realmente preocupante na situação econômica do Brasil não é a lentidão com que seu PIB vem aumentando, mas a falta de longevidade para essa extraordinária capacidade de converter crescimento em desenvolvimento. Tenebroso é o cenário para as próximas gerações", escreve José Eli da Veiga, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), em artigo publicado no jornal Valor, 18-12-2012.
Segundo ele, "o mais sério problema nacional está nessa contradição entre o inexorável imediatismo da dinâmica política democrática e a serenidade requerida pela ação estratégica. Diante dele, tanto os recentes posicionamentos das entidades de classe, sejam patronais ou trabalhistas, quanto os comportamentos da intelectualidade e da mídia, são indícios de profunda debilidade da sociedade civil".
Eis o artigo.


Tão suspeita quanto o chilique da revista "The Economist" é a avalanche de artigos sobre o desempenho econômico do Brasil, inteiramente ofuscados por seu Produto Interno Bruto (PIB) "fraco", "medíocre", "pífio", "pigmeu", "raquítico", "tíbio", "tímido", ou "Pibinho".

Todas essas variantes revelam quanto é mais cômodo deixar-se levar pelo reducionismo contábil do que atinar para as reais influências das variações do PIB sobre ao menos oito determinantes do desenvolvimento: coesão social, educação, emprego, estabilidade, governança, igualdade, infraestrutura (com realce para o saneamento) e saúde. Oito dimensões da qualidade do crescimento.

O pressuposto reducionista é que, em todas as sociedades e momentos históricos, as taxas de variação do PIB teriam impactos diretamente proporcionais no agregado das oito dimensões. Crendice cabalmente desmentida pela atual qualidade do crescimento econômico do Brasil: a melhor do mundo, quase idêntica à suíça, que ocupa o segundo lugar.

Dos países que participam diretamente do G-20, sete têm desempenhos não muito distantes do suíço-brasileiro: França, Indonésia, Austrália, Coreia do Sul, Reino Unido, Turquia, Canadá e Alemanha. Nenhum dos outros quatro Brics chega sequer a ter qualidade de crescimento acima da média mundial. Na China e na Índia ela chega a ser comparável à do Haiti.

Realmente preocupante na situação econômica do Brasil não é a lentidão com que seu PIB vem aumentando, mas a falta de longevidade para essa extraordinária capacidade de converter crescimento em desenvolvimento. Tenebroso é o cenário para as próximas gerações.

Entre as 150 economias que dispõem de estatísticas confiáveis, a brasileira despenca do 1º para o 65º lugar ao serem considerados os vetores que mais condicionam a produtividade futura: preparo e instituições necessários às inovações tecnológicas e ao empreendedorismo, capacidade de investimento, equilíbrio das finanças públicas, manejo macroeconômico, rede de proteção social e demografia.

Na avaliação de longo prazo, o Brasil até se sai melhor no G-20 do que Indonésia, África do Sul e Índia. Mas praticamente empata com a China e sofre o vexame de perder feio para Rússia, Turquia, Argentina e México.

Então, prever se nos próximos dois anos a taxa de crescimento voltará ou não a patamar acima de 3% é muito menos relevante do que parece, por mais que tal prognóstico seja absolutamente transcendente para quem está plugado nas próximas eleições.

Sob o prisma do interesse nacional e do bem-estar das futuras gerações, importa muito mais entender as razões da imensa distância que separa a atual excelência na tradução de crescimento em desenvolvimento e o sombrio prognóstico sobre o alcance histórico de tão virtuoso desempenho.

Seria muita pretensão arriscar alguma resposta simples para questão dessa complexidade. O que dá para fazer aqui é chamar a atenção do leitor para a gravidade que adquiriu no Brasil o choque - sempre recorrente em sociedades democráticas - entre ciclo eleitoral e orientação estratégica.

É inevitável que prognósticos sobre as taxas de aumento do PIB para os próximos dois anos sejam absolutamente cruciais para os 70 mil políticos com mandatos eletivos e suas vastas legiões de assessores, correligionários e simpatizantes. Já para quase todo o restante da sociedade - a começar pelo empresariado - deveria parecer muito mais decisivo descobrir de que maneira o potencial de longo prazo do Brasil poderia se aproximar dos do Chile e do Uruguai, mesmo que não dê para sonhar com os de Cingapura, Hong Kong ou Coreia do Sul. Muito menos com os dos países do primeiro mundo, isolados na dianteira global, sob a vanguarda dos escandinavos.

O mais sério problema nacional está nessa contradição entre o inexorável imediatismo da dinâmica política democrática e a serenidade requerida pela ação estratégica. Diante dele, tanto os recentes posicionamentos das entidades de classe, sejam patronais ou trabalhistas, quanto os comportamentos da intelectualidade e da mídia, são indícios de profunda debilidade da sociedade civil.

Em tal contexto, a principal diretriz da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) deveria ser mobilizar pesquisadores de todas as áreas com o objetivo de se investigar por que este país chega a vencer o campeonato mundial de qualidade do crescimento e simultaneamente projetar futuro tão incerto, para dizer o mínimo.

Contudo, por mais meritórios que sejam os programas da SAE e do vinculado Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), eles não poderiam estar mais alheios a parecido desafio.

Fica então uma sugestão de fim de ano para quem queira entender melhor a cegueira induzida pelo reducionismo contábil: aproveitar alguns momentos do recesso que se avizinha para refletir sobre os resultados da pesquisa "From Wealth to Well-Being", apresentados em relatório recém-lançado pelo The Boston Consulting Group.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Maristela R Santos Pinheiro responde ao PSTU, reiterando suas críticas




Nota da autora: 

Caros, o Documento “Na trincheira do Inimigo” é uma simples contribuição ao debate sincero,  franco e honesto. Não há uma linha sequer que mereça ser retirada ou possa ser chamada de mentira. Lamentavelmente não tenho o poder de retirar os fatos da realidade! Todos comprovados e citados suas origens.

O texto não inventa uma discussão sobre a crise de determinado setor da esquerda mundial no âmbito do internacionalismo proletário. Esta é uma discussão política  que corre solta e livre nos sites  que se dedicam à política marxista.  Não podemos negar a coragem que tivemos em reproduzir esta discussão em nosso país.

A contaminação de parcela da juventude e da vanguarda com linhas políticas  descaradamente em unidade com o imperialismo nos enfraquece e , sem dúvida, é mais um elemento que joga contra os povos oprimidos e os trabalhadores na correlação de forças, na luta de classes. Isto é um fato incontestável!

Não adianta tentar desviar a discussão para intrigas e disputas mesquinhas de aparatos políticos com argumentações anacrônicas, que não têm o poder de mudar a realidade contemporânea, essa que nos resta encarar  em nossa militância diária, além de não responder aos anseios, aflições e dúvidas desta juventude sobre a complexa e difícil conjuntura, após a derrota histórica da classe trabalhadora mundial.

Quando não somente os meios de comunicação de massa trabalham para justificar as intervenções e ingerências “humanitárias”,  buscando o apoio da população com mentiras e calúnias ( nenhuma novidade), mas há, ainda, as ONGs, cujo trabalho de formar quadros,  recrutar “lutadores sociais”, financiar e introduzir simpáticos agentes humanitários e democráticos e forjar alianças pela “democracia” está fazendo  a diferença na luta de classes e na  promoção  às guerras de rapina contra todos povos, em particular , os árabes e africanos. E, à reprodução dessa ideologia junta-se , lamentavelmente, uma parcela da esquerda mundial.

Para não me alongar mais, concluo dizendo que reitero   cada palavra que escrevi no documento “ Na trincheira do Inimigo”, reproduzido abaixo.

Não existe nele, nenhuma espécie de calúnia, mas tão somente conclusões lógicas a partir das políticas contrárias ao marxismo revolucionário de setores da esquerda, políticas estas  que se aprofundaram , em seu teor pró-imperialista, ao ponto de  despertarem  simpatia até de setores das Forças Armadas dos EUA que, à revelia ou não, homenagearam uma suposta ativista “rebelde” da oposição síria, convidada pelo PSTU para dar palestras a incautos militantes brasileiros, como se uma grande revolucionária fosse.
  
Afinal se o Exército dos Estados Unidos  acha um vídeo de uma “revolucionária” síria entre os milhões  de vídeos que existem na web e posta em seu site, é porque , não apenas concorda com o  conteúdo do discurso da “rebelde”, como  o julgou positivo, para ajudar a justificar  a agressão imperialista à Síria.

Nesta última semana assistimos o apoio explícito do PSTU à famosa, global e simpática "agente humanitária e da democracia" , a cubana Yoane Sanches que se encontra em nosso país para angariar simpatizantes para destruir as conquistas sociais e democráticas do povo cubano. Esta é a mesma discussão política: a crise de uma parcela da esquerda com o internacionalismo proletário.

Como defesa, o PSTU se esconde atrás da militância da causa Palestina, fazendo crer que a Palestina não é parte de todo processo e do resultado do embate entre a resistência pan-árabe e o imperialismo. 

Não é verdade que a Palestina Livre  é uma ilha onde chegaremos nadando. Infelizmente, a heroica luta que se trava diariamente  nos territórios contra o sionismo  e o papel das redes de solidariedade espalhadas pelo mundo não são determinantes a ponto de libertar a Palestina. 

O  jogo está sendo jogado em todo o Mundo Árabe e a situação da luta dos palestinos sofrerá uma derrota histórica se o povo sírio, tal qual foi o líbio, for derrotado. 

Não é possível jogar nos dois times. Neste caso, o fortalecimento do imperialismo na Síria, significa   o fortalecimento do sionismo no Mundo Árabe.

Definitivamente, a manipulação que fazem da história e sua dinâmica não é fruto de uma análise marxista.

Por fim, que fique claro para todos, a posição política do PSTU não está destruindo o Presidente Assad, esta posição apoia a destruição da Síria, de seu povo, esta posição é contra o Bloco de resistência árabe, esta posição  fortalece o sionismo.

O Documento reproduzido abaixo faz essa discussão.

Sobre  a questão de um ou dois Estados na Palestina sugiro a leitura do Documento “Uma Reflexão necessária”  postado, também, no sítio:http://www.brasildefato.com.br/node/5302

Sobre a discussão da estratégia estadunidense para o Oriente Médio, incluindo a Palestina,  e a crise da solidariedade internacionalista sugiro  a leitura  do Documento “A Tragédia palestina ampliada para o mundo Árabe”, encontrado nohttp://somostodospalestinos.blogspot.com.br/2012/05/15-de-maio-de-1948-nakba-tragedia.html

Boa leitura!

 Em Tempo: 
1 - Meu rompimento político com esta corrente foi pautado justamente no campo do internacionalismo proletário, no episódio dos estudantes da direita venezuelana , que recebeu o apoio dessa corrente internacional.
2 - Estive no Fórum da Palestina em Porto Alegre e participei de duas atividades organizadas pelo Comitê do RJ ( Sobre a atuação do sionismo na Colômbia  e outro sobre a Estratégia do imperialismo para o  Mundo Árabe e a Palestina) e nas atividades organizadas pela FPLP.  Nunca participei de nenhuma atividade política deste grupo desde os episódios dos estudantes venezuelanos. 
Abaixo, finalmente, o Documento:
Maristela R. dos Santos Pinheiro
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Na Trincheira com o Inimigo

A crise política e ética de uma parcela da esquerda mundial

 As posições políticas alinhadas com o imperialismo não podem mais  ser tratadas como diferenças táticas,  a crise com os valores marxistas/leninistas de certos setores da esquerda mundial está tomando proporções assustadoras e criminosas, que afetam a correlação de forças na luta de classe, na medida que manipula um setor importante da vanguarda e da juventude com suas posições contaminadas pelo inimigo, e afetam, sobremaneira,  a prática da solidariedade internacionalista à luta dos povos oprimidos contra o capital e o imperialismo. Em particular, afeta, no Oriente, sobretudo, à luta pela Palestina Livre.  

Por Maristela R. Santos Pinheiro - Cientista Social
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TRADUÇÃO: Nós estamos prontos para ajudar, se vocês quiserem

Todo militante da causa palestina sabe que se dependesse da mídia corporativa, ou das ONGs a verdadeira situação do povo palestino, os 64 anos de crimes de guerra, o cotidiano dramático  da ocupação, a história da própria formação da entidade sionista, o significado ideológico do sionismo e a história de todos os movimentos de resistência da Palestina ocupada estariam, ainda, sem a devida compreensão que hoje uma grande parcela tem deste enfrentamento covarde e criminoso. 

Essa consciência da dura realidade da luta palestina foi uma construção dos partidos identificados com o internacionalismo proletário. Essas organizações  tiveram  papel fundamental na organização da solidariedade internacionalista espalhadas pelo mundo.

Aqui no Brasil, por exemplo, mesmo durante a Ditadura Militar, no final da década de 70, os militantes das organizações de esquerda, do Rio de Janeiro, organizaram um Comitê  pelo Reconhecimento da OLP,  e apesar da clandestinidade, os comunistas, juntos com outras organizações, se esforçavam por um contato com os lutadores palestinos e participavam  ativamente  pelo reconhecimento da organização árabe/palestina. 

No entanto, temos observado  o grave afastamento de uma parcela da "esquerda" do internacionalismo proletário, cuja base marxista  sempre foi fundamental para correta análise da realidade, considerando seu movimento em sua complexa totalidade, historicamente determinada e daí tomar as decisões e posições, aquelas que mais favorecerão as nossas posições  e, enfraquecerão ou fragilizarão as do inimigo de classe e seus aliados.  Talvez esse fenômeno seja ainda reflexo ou eco da derrocada soviética e de um balanço ainda não totalmente apurado e enfrentado da derrota histórica do movimento operário internacional e da consequente abertura de espaço para o fortalecimento da ideologia do inimigo de classe.

Quando a OTAN, representante de 28 Estados "democráticos", lançou  toneladas de bombas sobre a antiga Iugoslávia nos Bálcãs, ficou patente e exposta a crise da esquerda com os valores marxistas/leninistas. Muita gente boa e organizações caíram na cantilena americana da "responsabilidade de proteger", da "campanha humanitária" e na campanha de "criminalização do inimigo atacado"e, ainda na "ingenuidade" do "fogo amigo" . O imperialismo, através da OTAN, com o apoio incondicional da UE,  conseguiu, depois de massacrar, assassinar e derramar muito sangue, fragmentar o Estado em diversos e pequenos cinturões étnicos, dos quais consegue , com muita facilidade, extrair riquezas naturais  e explorar a mais valia:    Servia,  Montenegro, Kosovo, Eslovena, Macedônia, Croácia, Bósnia e Herzegovina.  Durante muito tempo depois, velhos militantes iugoslavos  denunciavam exaustivamente que organismos dos direitos humanos e  ONGs especializada em democracia haviam proliferado no país, algum tempo antes dos acontecimentos, para  nutrir  a ideologia pró- imperialista e arregimentar grupos mercenários e esquadrões da morte que fomentavam as provocações entre as etnias, que até então, sempre viveram juntas e sem problemas. Poucas organizações da esquerda lhes davam  ouvidos, seja na Europa, ou América Latina. Muita gente boa entorpecida com o fim da URSS e outras gentes  felizes  pela  "democracia" ter voltado aos países socialistas, como a Iugoslávia.

Talvez tenha sido este o primeiro grande teste para aferir os valores internacionalistas de solidariedade proletária que tínhamos conseguido, ou não, manter e assegurar dos destroços. Por óbvio, os sinais de mudança e crise estavam no horizonte das diversas tradições da esquerda, mas apesar deste ser um tema apaixonante para o debate,  este não é o tema desse texto. Seu objetivo é muito mais simples, queremos contribuir para por fim à forma hipócrita que  estamos lidando com esses visíveis e lamentáveis sinais de retrocesso e deformação.  

Não podemos mais tratar posições políticas alinhadas com o imperialismo como diferenças táticas, quando são problemas estratégicos e de princípios; queremos enfatizar e denunciar  que a crise com os valores marxistas/leninistas de certos setores da esquerda mundial está tomando proporções assustadoras e criminosas, que afetam a correlação de forças na luta de classe, na medida que manipula um setor importante da vanguarda e da juventude com suas posições contaminadas pelo inimigo, e afetam, sobremaneira,  a prática da solidariedade internacionalista à luta dos povos oprimidos contra o capital e o imperialismo. Em particular, afeta, no Oriente, sobretudo, à luta pela Palestina Livre.

No Brasil,  a ocupação do Iraque  motivou a última história de unidade na luta internacionalista das diversas organizações de esquerda, que se perfilaram contra a invasão do Iraque e pela soberania de seu povo. Nesta invasão militar, os EUA colocaram em movimento sua tradicional campanha de "criminalização do inimigo atacado" , a "campanha humanitária" e a sua "responsabilidade de proteger", mas, em que pese a reação da esquerda, ter sido débil , fraca e pontual, longe de expressar a tradição bolchevique,  é inegável e positivo que foi uma reação contrária às campanhas imperialistas/sionistas.  

Nestes 10 anos de ocupação, os norte americanos utilizaram bombas de nêutrons empobrecido, última variante da bomba atômica; assassinaram mais de 1 milhão de iraquianos; ainda derramaram duas bombas nucleares: uma em Faluja e outra em Bora Bora, no Afeganistão. No entanto, grande parte da esquerda, nestes 10 anos, ignorou a estratégia geopolítica e militar americana, ignorou , da mesma forma, a resistência debilmente armada que Faluja sustentou durante muito tempo. Pouco se importou com a estratégia dos exércitos  mercenários, ou com as bombas de nêutrons, ou com as corporações privadas paramilitares sionistas que implantavam a "democracia" no Iraque.  Claro, houve textos em sítios e artigos em jornais , como há missas aos domingos.

A esse comportamento frouxo, com relação a solidariedade internacionalista, adicionamos as  aberrações nas  análises políticas dos mais variados matizes:  reducionismos primários, teorias economicistas e liberais "pós-modernos";  unidades inusitadas, por exemplo com as ONGs, em particular de Direitos Humanos e pró-democracia; uma aproximação fervorosa com a ideia da democracia como valor universal, o foco nas questões imediatas e de grupos específicos, tendencias às lutas fragmentadas com pautas próprias e as famosas políticas de identidade.

Enquanto parte das organizações de esquerda se afasta  dos valores internacionalistas de Marx e Lenine,  a crise sistêmica do capitalismo o leva a seguir, com mais vigor, sua estratégia expansionista de tomar posse das riquezas do planeta. No Oriente, isso significa expandir sua ocupação "democrática" para além das fronteiras de Israel,  e dos Emirados Árabes, completar a limpeza étnica da Palestina, manter o domínio sobre o Egito, onde tem a classe operária mais importante do Mundo Árabe  e aumentar a exploração da mais valia das massas árabes. Para isso necessita destruir o bloco  de resistência pan-árabe, sustentado pelo trio Hezbollah, Síria e Irã e , concomitante,  fortalecer e se aliar ao que tem de mais atrasado  e pró-sionista, a Irmandade Muçulmana.

A destruição do Estado líbio e o massacre de seu povo pela OTAN, foi um marco na mudança de paradigmas de parte da esquerda mundial.  

Na Líbia e na Síria, o  papel da Irmandade, aliada privilegiada para esta estratégia , foi, e ainda é, especialmente militar. Financiada pela Arábia Saudita, Qatar e com a ajuda técnica da Turquia, a Irmandade construiu um exército de  mercenários, cuja base social é a escória, o lumpesinato e os fundamentalistas mais atrasados do Islã, recrutados pelo mundo. Na Líbia, esse exército de mercenários só conseguiu dar o golpe de Estado, depois que a OTAN massacrou o país pelo ar.

Com a ajuda da mídia, ONGs, Organismos Internacionais de Direitos Humanos e certas organizações , o imperialismo  pôs em marcha, primeiro na Líbia e desde março de 2011, na Síria, uma operação de surfar e manipular os protestos pacíficos e reais da população destes países, logo no seu início, para em seguida introduzir armas e mais mercenários e mudar completamente a natureza  e a composição social destas "agendas". Esta não é uma nova estratégia. Esquadrões da morte para fomentar  violência sectária, ou destruir organizações insurgentes foram plantados pelos serviços secretos imperialistas, em diversas ocasiões históricas, por exemplo em El Salvador, os contra da Nicarágua, os  mercenários mujahedeen no Afeganistão, os paramilitares da Colômbia, e os esquadrões de terror para o Iraque, só para citar alguns.

A tragédia na Líbia, chamada criminosamente de "revolução popular" por setores da esquerda, passado um ano, não tem nada de revolução e de popular: é o caos e a desgraça para o povo líbio, vítima da barbárie e do atraso instalado nas ruas pela escória mercenária e pelo governo títere da Irmandade Muçulmana. A população que se gabava de ter o melhor IDH da região, voltou a idade do tacape, literalmente.

Para a Síria, a estratégia foi muito parecida, mas a situação não está exatamente como o imperialismo/sionismo desejava: A Síria resiste, resiste e resiste! Por um principal e inequívoco motivo: a unidade e determinação do povo sírio pela defesa de sua soberania e autodeterminação. O povo sírio luta pelo seu  Estado laico e antimperialista. Essa é a poderosa força que impede a Síria de ser destruída e voltar, como a Líbia, um século no tempo. 

Entretanto,  setores da esquerda resolveram caracterizar  os mercenários de revolucionários, ONGs e Mídias corporativas  de fontes de informação do QG da Comissão Revolucionária  e grupos pequenos burgueses das redes sociais de soviets da revolução.  Bom, daí assumir a unidade  militar com o imperialismo em nome da "democracia", não precisa nem pular, é o passo seguinte e assim tem sido. 

Quem está apontando armas para o povo sírio e praticando atos de terrorismo  não é o Exército Árabe da Síria, são os mercenários, os esquadrões da morte da Irmandade Muçulmana, chamado de exército livre da Síria (ELS),  com quem parcela da esquerda faz unidade e chama o envio de armas. Eles estão sendo armados pela França, pelos EUA, Arabia Saudita, Turquia e Israel, e têm o aparelho militar da OTAN ao seu lado, não necessitam desta "solidariedade".


A vertente de esquerda que comemorou como vitória a queda da União Soviética, quando deveria ajudar no balanço dos erros cometidos que levaram a derrota da classe operária mundial; que diz que Cuba é uma ditadura castrista, por que o sistema democrático cubano é socialista e dirigido por Fidel, por quem nutrem um ódio sem igual, enfim, essa esquerda,  que na Colômbia  rotula a guerrilha das FARCS de reformista, e na Venezuela faz manifestações em unidade com a direita, se uniu militarmente ao imperialismo sob a bandeira do fascista Rei  Idris e chamou esse movimento de revolução popular na Líbia. Essa "esquerda" fez campanha chamando o envio de armas para os "rebeldes" líbios, quando nem isso os mercenários bem armados da OTAN precisavam; se  pauta pelas informações de observatórios de Direitos Humanos, pela mídia corporativa e por ONGs implantadas nos territórios dos países como braços dos serviços de  inteligencia . Esta parcela da esquerda  se uniu aos "rebeldes" que são assumidamente descritos pelos próprios Estados agressores, como mercenários ligados a Al Qaeda. Na Síria, não estão fazendo diferente, estão juntos com o imperialismo no terreno militar.

O que se passa com esses grupos? Considerando que muitos deles vêm de uma tradição que se construiu como alternativa crítica à degeneração da burocracia soviética , essa nova postura é de se espantar! 

A primeira coisa que vem à mente é que esses grupos foram picados pelo mesmo veneno  que historicamente foi a origem da burocratização soviética e sua posterior derrota para o capital, ou seja abandonaram de vez os princípios do marxismo revolucionário.

Construíram seus alicerces e suas identidades tão presos à crítica pontual e à preocupação de  rotular os "inimigos" da própria classe, que se perderam, ou se cristalizaram no pequeno instante, no alienante momento focado, e não conseguem se localizar nos movimentos reais, complexos, dinâmicos e históricos, em tempos de mudanças rápidas e vitórias dos inimigos de classe, da outra classe.  Em muitos países, esses grupos mal conseguem  sustentar um compromisso de unidade para lutar, com outras correntes e tradições porque, como alguns grupos religiosos fundamentalistas, só acreditam  em suas almas abençoadas e purificadas, e sustentam, miticamente e metafisicamente, uma fé de que a revolução nos espera na próxima esquina, logo, para que tanto energia gasta com a unidade.

Essa forma mecanicista de analisar a realidade está anos luz do marxismo revolucionário e passa longe da compreensão da totalidade e da complexidade  dos fenômenos históricos e sociais no contexto da luta de classes.

Não me leve a mal: Essa esquerda cuja principal base social em todo o  mundo é a pequeno burguesia não é, hoje, exatamente marxista, não porque são pequenos burgueses, mas por que agem e pensam como tal.

SUPOSTA "MILITANTE" SÍRIA ELOGIADA  EM SITIO DAS
 FORÇAS ARMADAS  DOS EUA !? O que pode significar isso?

No Brasil, uma dessas organizações abriu espaço em seu sítio e nos sindicatos no qual dirige para uma suposta "rebelde" síria. Uma mulher chamada Sara Al Suri  que conta uma estória redondinha, a mesma que lemos no Globo. Essa mulher tem um espaço na mídia que o companheiro Latuf,  militante da causa palestina, não tem;  ou mesmo os grupos da comunidade síria identificados com a luta antimperialista e antisionista em seu país, não tem. Os movimentos sociais contra a remoção, as vítimas da violência policial, enfim, nada , nem nenhuma luta social, do interesse da classe trabalhadora, em nosso país,  tem o poder midiático desta mulher síria.
Ela surge no Brasil pronta e preparada  para dar entrevistas e fazer discursos redondinhos sobre a importância de apoiarmos os mercenários que querem destruir o Estado laico da Síria e transformá-lo  num domínio do grupo pró sionista  chamado Irmandade Muçulmana. E , ainda afirma que se a Síria for destruída e o governo antimperialista cair, isso facilitará a vitória da Palestina Livre!!!??? 

Como, cara pálida,  que os aliados do sionismo, uma vez no governo da Síria, irão manter a ajuda que a  Síria dá atualmente aos militantes palestinos?Afinal, é  neste Estado laico, sob o governo de Bashar Al Assad, apoiado pela esmagadora maioria de seu próprio povo, que as diversas facções e braços armados das organizações palestinas recebem treinamento militar e armas para libertar a Palestina da ocupação sionista. A derrota da Síria para os EUA e Israel, será a derrota da resistência pan-árabe e da maioria do povo sírio contra o que há de mais fascista e atrasado no Mundo árabe, expressos no grupo político da Irmandade Muçulmana. Por tabela, será a derrota da luta pela Palestina Livre, que como disse um amigo palestino, militante e simpatizante da Fatah, "O custo da derrota Síria será o de voltar,  no mínimo, 50 anos para trás em nossa luta."

Esta suposta síria, agente "humanitária e da democracia", omite o fato que grande parte das forças de resistência palestina estão perfiladas na unidade ao lado do povo da Síria em defesa da soberania e independência do Estado sírio e do pan-arabismo, desde o início das tentativas de desestabilizar o governo e impor , de fora, um golpe de Estado.  A maior prova disso aconteceu em Yarmouk.
 Leia aqui : http://somostodospalestinos.blogspot.com.br/2012/12/declaracao-da-fplp-cg-sobre-o-ataque.html

Nas últimas semanas do ano, em dezembro de 2012, os mercenários armados até os dentes entraram no Campo-cidade dYarmouk, cidade/campo de refugiados palestinos na Síria, desde 1948, com o objetivo de fazer ali  uma carnificina,  mas foram surpreendidos pelos combatentes da  FPLP- CG que bravamente entraram em luta mortal, lado a lado com o Exército Árabe da Síria, para defender o povo e acabar com as intenções do famigerado e terrorista  ELS de fazer do campo uma base contra o Estado sírio. 

O fato grave não é tanto o surgimento dessa mulher e sua estorinha redondinha isso faz parte da luta de classes, mas  o mais grave é que um grupo de esquerda, no Brasil,  não está somente apoiando politicamente a estratégia imperialista, com esta atitude, está promovendo a manipulação direta das massas, em unidade de ação com o imperialismo/sionismo. Não é a VEJA que está levando  uma agente "humanitária" a manipular nosso povo, é um partido de esquerda!

Alguém poderia dizer: Não há exagero nisso? Pois bem, camaradas, vamos aos fatos

O vídeo/conferência da tal Sara  foi encontrado no sitio das Forças Armadas dos EUA e, imediatamente, após ter encontrado, militantes postaram a denuncia no Facebook  Uma semana após a denúncia, feita no Brasil, o vídeo foi tirado do ar. Por sorte, copiamos algumas fotos do sítio,  postadas abaixo, já prevendo que fariam isto. Imaginem que as Forças Armadas imperialistas iriam querer atrapalhar o trabalho da agente Sara, sua aliada. 

Denúncia e fotos postados no Facebook em 24 de dezembro:
"Ao mesmo tempo em que PRESTA HOMENAGEM ÀS FORÇAS FEMININAS DA IDF - Exército de Israel- em um vídeo intitulado " Quem não gosta das mulheres da IDF" o site "Military .com." das FORÇAS ARMADAS DOS EUA, ELOGIA  SARA AL SURI, que se reivindica ativista síria e explica ao site o que está acontecendo na Síria. Quem quiser conferir veja em :http://www.military.com/
http://www.military.com/video/operations-and-strategy/battles/female-syrian-rebel-talks-conflict/1969156851001/




A primeira foto, tirada do site Millitary.com (EUA), é de uma soldado judia do exército sionistas. Como era de se esperar de um sitio das Forças Armadas do imperialismo, este tem inúmeras matérias  onde exaltam a força e determinação do Exército de Israel e de suas belas soldados. A foto da direita  foi copiada do vídeo da suposta "ativista" síria publicada amplamente na Internet.

A foto abaixo foi copiada da página inicial do Military.com (EUA) : A primeira imagem é da Campanha  de recrutamento do Exército dos EUA, logo abaixo vem a chamada do vídeo da "rebelde" síria. 




Aumentamos o tamanho da foto para que todos vejam o nome do sito indicado pela seta azul.
Na primeira semana do ano, uma semana após a denúncia ter circulado no facebook o vídeo foi tirado do ar, vejam:


Lamentamos, a página solicitada não pode ser encontrado. tente uma das seguintes opções: Utilize a caixa de pesquisa para encontrar o vídeo você está procurando ou check-out Military.com 's vídeos mais populares e vídeos em destaque . Military.comEntretenimento : Encontre o mais recente em filmes, jogos e muito mais! Confira os Mapa Entretenimentopara mais. Military.com Home Page : Confira alguns dos outros recursos em Military.com Military.comMapa : Olhando para uma página específica ou tópico? Experimente o nosso mapa do site. 

As denúncias não param por aí:
Canadense se alista no exército mercenário e diz que serão leais à Israel



Outra denúncia que desmascara a estratégia dos agentes"humanitários e democráticos", que se dizem preocupados com o povo sírio e com os palestinos,  foi publicada no insuspeito (sionista) Jornal israelense Yane news, em novembro de 2012 , onde o jornalista exalta o perfil   de uma mulher síria identificada como "rebelde" de nome Thabia Qanfani, que vivia no Canadá e se "juntou" ao  mercenário exército livre,  fala abertamente, sem travas na língua, que "Israel vai se beneficiar de nos apoiar" solicita que "Israel deve nos apoiar na luta contra Assad"e que "vamos cooperar com o diabo se ele ajudar nossa causa".
O Jornal conclui assim: " Qafani diz que os membros da oposição síria e civis que ela conheceu ""todos dizem a mesma coisa. Nós não somos inimigos de Israel e não vamos prejudicá-lo, ... podemos vir a ser mais leais a Israel do que Assad e seus comparsas."" 
A entrevista completa pode ser lida em http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-4318384,00.html 

Para terminar, e confirmando nossas preocupações sobre a gravíssima crise dos valores marxistas e leninistas de um pequeno setor da esquerda mundial, reproduzimos abaixo um trecho do discurso de um dirigente da LIT por ocasião de um ato comemorativo:

"O final do ato ficou por conta de Angel Luís Parras, o Cabeças, da direção do Corriente Roja da Espanha e da LIT. "A situação atual é muito complicada, mas muito apaixonante", afirmou."Temos assistido a explosão das revoluções do Norte da África e Oriente, fruto da crise econômica e ascenso popular, mas também fruto dessa mudança que foi o fim do aparato estalinista. Submetidos à miséria e à ditadura, os povos irromperam o cenário político", citando a crise na Europa e as revoluções do Norte da África.

Cabeças atacou a posição de grande parte da esquerda e do castro-chavismo, de apoio ao ditador Assad na Síria." 

Esse trecho do discurso é esclarecedor , em todos os sentido: A caracterização de que na Líbia (África)  houve explosões revolucionárias e sua origem é a crise econômica, ascenso popular e claro, o fim dos "stalinistas". Na Líbia, em primeiro lugar, não havia crise econômica,  em segundo,  não houve nenhuma manifestação ou processo de organização de manifestações de massa, ou da classe trabalhadora e, em  terceiro, não havia nem organizações stalinistas, nem partidos comunistas desde o início da era Kadafi, mas ONGs , muitas, e redes sociais dirigidas desde o exterior. Além disso, o dirigente da LIT esqueceu de falar em seu discurso,  a única explosão  sentida pelo povo líbio não foi a revolução, e sim a explosão de toneladas de bombas da OTAN , massacrando as conquistas do povo e o próprio povo líbio (mais de 50 mil mortos). Em seu afã de provar que havia uma revolução onde, na verdade, acontecia uma contra revolução,  esqueceu também de contar que grupos de mercenários estupraram todas as mulheres que viam pela frente.  Devo dizer , que este foi um insignificante esquecimento na lógica  desses grupos.


O dirigente faz uso dos famosos e já rotineiros rótulos do tipo:  stalinistas,  castro-chavistas,  ditador Assad, sempre muito utilizados pelos que  reduzem e desejam  descartar a discussão, por que desqualifica de imediato uma opinião contrária, ou um debate franco para se chegar à compreensão dos processos ricos e complexos da realidade, não para nos gabarmos em discursos estéreis da academia, e sim  para melhor intervir na realidade, afim de transformá-la. Entretanto, neste caso, lamentavelmente, o mais importante é a disputa dos aparatos e a superfície das análises e discussões.

Quero terminar essa contribuição ao debate sobre a crise política e  moral  refletida na prática do internacionalismo proletário de parte da esquerda mundial reproduzindo o final do discurso do dirigente da LIT, onde afirma a unidade com o imperialismo e expõe uma tentativa grotesca de falsear a história com comparações escandalosamente inapropriadas historicamente:

 "Dizem que há uma unidade de ação entre os rebeldes e o imperialismo. Mas claro que houve. A mesma unidade de ação que houve no desembarque dos aliados na Normandia e os partisanos contra Mussolini".
"Neste ato, queremos enviar uma saudação a nossos detratores: sigam convocando atos em defesa de Assad, pois a LIT continuará na resistência" provocou Cabeças. (texto completo pode ser encontrado no sítio dessa organização internacional)

Afirmam que continuarão na "resistência", leia-se: continuarão mantendo a unidade com o imperialismo contra o povo sírio, contra as massas árabes e o pan-arabismo, contra o bloco antimperialista e contra a Palestina Livre! Tudo, claro em, nome dos valores democráticos burgueses.

Por sorte, uma parcela significativa da esquerda mundial, a mesma que está comprometida em fazer o balanço dos muitos erros cometidos pelos soviéticos, e os próprios, em seus países de origem, está  tentando a duras penas manter o timão apontado para o marxismo-leninismo. 


De nossa parte , vamos insistir na análise marxista da realidade, vamos insistir na posição que nos dê a chance de alterar a realidade para ficar a nosso favor, a favor dos trabalhadores,  nunca contra e nunca em unidade com o inimigo!



Viva o povo da Líbia que resiste contra a barbárie prometida!


Viva a unidade do povo sírio , sua autodeterminação e soberania do Estado laico!


Viva a Palestina Livre!


Viva a unidade e a luta  pan-arábica contra o imperialismo, o sionismo, a OTAN, a UE !