segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Menos hipocrisia

por Rosely Boschini (*)

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo de impedir a distribuição do conceituado livro "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século" a estudantes da rede pública de ensino cabe atenção, mas o momento anterior de levar aos tribunais a questão é motivo maior de reflexão devido à forma com que foi tratada a causa.
É preciso construir um debate mais amplo sobre essas contendas para não cairmos no lugar comum de exacerbada austeridade moral às letras e censura a obras literárias, principalmente aquelas já consagradas e conhecidas como referência do nosso idioma pela forma sublime com que usa palavras e expressões da Língua Portuguesa.
Os textos dos livros são repletos de traços de subjetividade que os avalizam como o melhor meio para desenvolver o conhecimento e a capacidade de reflexão. Não à toa é o maior instrumento de aprendizado de crianças e jovens.
Nesse campo, faz-se necessário que todas as variáveis literárias sejam apresentadas. Cabe nessa análise a inclusão de obras clássicas a contemporâneas, de cunho meramente pragmático e formal a relacionadas a temas mais complexos, como religião, comportamento e ética. Isso é inevitável e necessário para o desenvolvimento humano. A conduta puritana em torno de obras literárias não combina com o pensamento flexível necessário para viver em uma sociedade plural e democrática.
Portanto, torna-se importante que pais de alunos e educadores formem debate mais profundo do assunto - inclusive para busca de solução adequada para seu ambiente - antes de conduzir obras a questionamentos de cunho moral por meio de grupos pouco familiarizados com a pedagogia do ensino, como é o caso da obra tratada neste artigo.
Até porque muitos desses livros antes de serem adotados em escolas passam pelo crivo de sérias e competentes comissões de seleção de material didático, composta por um gama de profissionais alinhados à realidade e às necessidades do estudante brasileiro. Vale ressaltar que os mesmos estão sob a égide de importantes programas governamentais de inclusão socioeducacional.
Discutir livros e leituras é sadio e fundamental no processo da educação. A velocidade com que o mundo caminha faz com que frequentemente o próprio mercado se atente a revisar o seu conteúdo editorial tratado em obras literárias, para acompanhar as mudanças sociais e as novas condutas e atitudes estabelecidas pelo mundo moderno.
Na mesma linha, o setor editorial também preza pela manutenção da liberdade de expressão e o avanço no tratamento de temas que ampliem a observação apurada da atualidade, para que todos possam viver de forma mais harmoniosa nesse complexo mundo que nos cerca. A hipocrisia na definição de livros que possam ser lidos pelas crianças e jovens do país é o pior remédio para combater a desarmonia entre as pessoas.

(*) Rosely Boschini é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

sábado, 11 de dezembro de 2010

Festival Roda Viva não terá edição em 2010

Tradicional na cidade, o Roda Viva, um dos poucos festivais de MPB que resistiram em Minas Gerais e no Braisl, não será realizado em 2010, devido ao descaso das atuoridades políticas de Ipatinga no que se refere a cultura. Essa é a 2ª vez que o evento não acontece, na primeira, em 2007, políticos inescrupulosos queriam mudar o local, sairia da Praça do Bairro Bom Jardim, onde tudo começou ainda no início da década de 80 e que se chamava MPBJ - expliciatando-se aí as iniciais do bairro no nome do evento e se transeferiria para área do novo centro de Ipatinga, perdendo-se um pouco das raízes e origens de seus idealizadores, os moradores do bairro Bom Jardim.
Festival abre espaço para músicos e artistas de todo o país. Nomes consagrados como Beto Guedes, Sá e Guarabira, Zé Geraldo, 14 Bis e outros já marcaram presença.
A princípio, a 27ª edição estava prevista para dezembro deste ano.
No entanto, devido a um erro no projeto de lei (nº 205/10) enviado pela Prefeitura, que previa repasse à entidade responsável pela realização do evento (Grupo Cultural Roda Viva), o Festival ficará para 2011. Para que não haja sobressaltos, será necessária a inclusão do Grupo Cultural Roda Viva entre as entidades contempladas na Lei de Repasse de Subvenção, Auxílio e Contribuição, prevista para ser apreciada pela Câmara ainda este mês.

Será mesmo apreciada ainda nesse mês? Quem viver verá!?

O PCB Ipatinga repudia tal descaso e omissão das autoridades (in)competentes, para tal, coloca-se a disposição do Grupo Cultural Roda Viva para manifestar junto aos demais publicamente para que a cultura de Ipatinga seja respeitada.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Viagem a Amsterdã

Durante algum tempo, virou moda. Todo candidato que se arriscava a um debate com seu adversário, fosse na TV, no rádio ou sobre um tablado montado em qualquer praça, deparava-se com a inevitável pergunta:
- O senhor já fumou maconha?
Mais do que demonizar a cannabis, tentava-se demonizar o candidato maconheiro. Lógico, a maioria, com exceção de Bill Clinton, nunca havia fumado, sequer havia visto, nem sabia como era.
Outros, mais ousados e menos hipócritas, como Fernando Gabeira, que experimentaram a liberalidade europeia, retornaram do exílio defendendo a descriminalização da maconha e outras ideias avançadinhas, como a união civil de homossexuais. Foram crucificados durante algum tempo, mas depois caíram no esquecimento.
Tempos depois, eis que o parlamento brasileiro decide acabar com a pena de prisão para o usuário de droga. Não chega nem perto da descriminalização, mas já é um avanço. Diante do progresso, mesmo o então deputado Fernando Gabeira, paladino da legalização, depois de várias ameaças de processo por apologia às drogas, não quis se arriscar ao ser indagado por um repórter se já havia fumado maconha. Admitiu que fumava, mas completou, espertamente: "Me limito a fumar nos lugares onde a maconha não é proibida. Em Amsterdã, por exemplo".
Dá até para imaginar Gabeira "fissurado" e de malas prontas, numa manhã de sábado, avisando à companheira:
- Amor, dá um tempo aí, que vou ali "dar uma bolinha".