quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Terra de Ninguém

Infelizmente, desde o “Homicídio nº 1”, que vitimou
João Valentim Pascoal, morto por um policial militar, a
cidade de Ipatinga e o Vale do Aço vêm convivendo com
a impunidade. Logo após o caso, que marcou a cidade na
década de 50, o município enfrentou impunemente outro
episódio marcante, o “Massacre de Ipatinga”, em 1963 –
que vitimou um número ainda incerto de operários e da
população –, na repressão ao movimento grevista que os
articuladores do golpe militar de 1964 quiseram dar como
exemplo. Além dos episódios e casos mais notórios das décadas
de 50 e 60, o problema da violência e da impunidade,
nestas mesmas décadas, acontecia de forma cotidiana,
com “menos intensidade” nas cadeias públicas (xadrezes,
“latões” e “seguros”, onde outras formas de violação de direitos
humanos eram “garantidos” pelo Estado).
Exceto alguns casos de extermínio perpetrados por capangas
ligados a alguns grupos políticos, com clara conotação
de queima-de-arquivo, como no “Caso Tonhão” e
outros que se seguiram, Ipatinga seguiu presenciando assassinatos,
noticiados cotidianamente, como crimes envolvendo
as forças de segurança: ou seja, as polícias. Todos
os crimes, hipocritamente, sem solução como os casos
Juninho, da Missionária, Massacre de Belo Oriente, e,
mais recentemente, dos Meninos de Revés do Belém, etc.
A lista, envolvendo as forças de segurança, pode se prolongar
por várias páginas, para ficarmos em casos notórios.
Aqueles mais simples, de troca de tiros entre bandidos e
agentes de segurança são raros. Parece, as forças de segurança
não são muito de enfrentamento.
Aliás, os jornais adorariam anunciar este tipo de atividade
– os duelos entre bandidos e mocinhos, os confrontos.
E adorariam anunciar também que tais e tais crimes
foram desvendados – e nem precisam ser aqueles cometidos
pela própria polícia. E anunciariam com prazer que
as polícias estão cada vez mais aparelhadas para combater
a criminalidade.
Mas, não. Temos que noticiar, cotidianamente que
um menino de 16 anos foi morto pelo tráfico, foi morto
porque estava envolvido com a criminalidade, foi morto
porque tinha que morrer. Lamentavelmente uma das
primeiras coisas que os órgãos de segurança fazem é puxar
a “capivara” do finado. Se estiver envolvido como
crack, então, ótimo, está justificada a morte. Ninguém
sequer se dá ao trabalho de investigar, nenhuma justificativa
à família. Mas pode ser também um caso como
o do Clube do Cavalo (da Quintaneja), basta se calar,
se silenciar – mais uma vez envolvendo um agente de
segurança.
Nós, de parte da imprensa, estamos acompanhando,
boquiabertos, esta situação. Um problema histórico que
está se tornando endêmico. Sozinhos, podemos apenas noticiar
os fatos, mas acreditamos que está na hora dos delegados
(as), promotores (as) públicos (as), juízes (as), vereadores
(as) e demais autoridades tomaram atitudes mais
severas em relação ao assunto.
Sob o risco de, todos, em breve, vivermos em terra de
ninguém.


Fonte: Diário Popular 29/12/2011

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