quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Domingo no parque

Semana passada fui ao Parque Ipanema visitar os brinquedos com a minha lha pequena.
Aviso aos navegantes: não vá. Fuja. Perigo real e imediato de acidente. O que incomoda não é o espinho da rosa da música do Gilberto Gil que dá nome ao artigo. É o abandono dos brinquedos infantis. Os balanços estão frouxos e tortos; os escorregadores cheios de farpas e há buracos e pedaços pontudos de madeira por todos os lados.
O Parque da Ciência construído ao lado está em ruínas e não funciona mais. E não foi por vandalismo que esta área de lazer está depredada. Foi por abandono, por falta de cuidado, de manutenção.
Se uma administração não cuida dos brinquedos oferecidos por ela mesma às crianças, imagine o resto. Dá para imaginar como estão os banheiros nas escolas públicas; as salas de aula; as bibliotecas; os computadores e tudo o mais.
Alguém poderia dizer que é falta de dinheiro. Não é. Construir equipamentos é realmente caro. A manutenção, feita na época certa, é bem barata.
Além disso, os números da Prefeitura para custeio não são modestos e não param de subir.
Vamos ver a tabela abaixo:

Principais ítens de despesa / Anos 2004-2010 em milhões de reais

2004 2010 Evolução

Desp. Totais 349,7 505,5 44,55%
Pessoal 129,7 235,3 81,73%
Custeio 124,4 202,3 62,75%
Outras 95,6 67,5 -23,39%

Os dados acima já consideram a inflação. Não são valores correntes, mas trazidos à mesma data. Como podemos ver, as despesas da Prefeitura, tanto de custeio como de pessoal subiram muito acima da inflação do período. Houve um ganho real de 81,73 no item pessoal, embora não seja possível notar que tenha havido expansão dos serviços prestados, melhoria da qualidade destes serviços ou elevação significativa dos salários reais pagos pela Prefeitura.
No custeio, estão agrupadas despesas com material médico-hospitalar, merenda escolar, água, luz, e a manutenção dos prédios e equipamentos públicos. O custeio passou de mais de cento e vinte e quatro milhões por ano para duzentos e dois milhões. Ou seja: 78 milhões a mais por ano.
Só que não dá para a gente sentir nenhuma melhora na limpeza e manutenção da cidade. Pelo contrário.
Os bons administradores unem a razão à emoção e se incomodam profundamente com os problemas da cidade. Procuram soluções, vão à luta, se sacri cam e se entusiasmam com os resultados obtidos. Demonstram amor pela cidade e possuem um vínculo emocional profundo com a população, além de desejo e vontade de fazer a coisa certa.
No centro de quase todos os casos de cidade de sucesso, encontra-se uma administração pública dinâmica, moderna, criativa, que trabalha incansavelmente na busca de novos horizontes de desenvolvimento. Há uma empatia entre o setor público; o empresariado local; as associações de classe e de bairro em torno de um projeto único de futuro, que embala os sonhos de qualidade de vida e desenvolvimento.
Por aqui, corremos o risco da administração pública tornar-se um fator de atraso do desenvolvimento socioeconômico e da melhoria da qualidade de vida. Assistimos a um fenômeno velho conhecido dos brasileiros: a máquina pública incha; cresce para dentro; passa a funcionar de forma mais lenta e confusa. Isto não por culpa dos servidores que fazem tudo para segurar a onda, mesmo sendo forçados a trabalhar apenas meio horário!

(*) Antonio Nahas

é economista Fonte: Jornal Diário Popular - Ipatinga, 09/11/2011

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